segunda-feira, 26 de abril de 2021

O verdadeiro maçom...

LIBERDADE: ser quem sou; IGUALDADE: compreender que somos todos iguais na essência, mas diferente em talentos e habilidades; FRATERNIDADE: respeito a diversidade; CORAGEM: ser um Livre Pensador; FELICIDADE: viver como quero, e um dia de cada vez.

Fonte/Foto/Créditos: Luiz Pedreira

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Tronco de beneficência

O TRONCO DA BENEFICÊNCIA 

José Luiz de Souza Pio, MM
Membro da Academia Amazonense Maçônica de Letras 

Beneficência é um principio ético, um tipo de ação correta ou obrigatória. É por meio do Princípio da Beneficência que se estabelece o dever maçônico de se fazer o bem aos outros, independentemente de desejá-lo ou não, e evitar sempre o mal. 
A Beneficência é também sinônimo de caridade, a virtude do amor ao próximo, e de filantropia, o sentimento que leva os homens a ajudar aos outros. 

A prática da benevolência está implicita em todos os princípios da Maçonaria. O neofito é instruído desde cedo na beleza de caridade em todas as cerimônias iniciais. Os mesmos desígnios benevolentes são repetidos quando ele avança no seu aprimoramento como maçom. 

O tronco da beneficência é uma das maneiras de se expressar a caridade, de se praticar a filantropia e a solidariedade entre irmãos. O Tronco nos mostra que o maçom não pode viver só para ele; ele tem que viver para outros que precisam de ajuda e amparo.

Em anatomia, o tronco ou torso é a parte central do corpo de vários animais (incluindo o ser humano), de onde se projetam a cabeça e os membros superiores e inferiores ou, nos quadrúpedes, anteriores e posteriores. Nas plantas, um tronco é um tipo de caule lenhoso, resistente, cilíndrico ou cônico e também mais largo na base que no topo, com ramificações, que se formam a partir de certa altura. Em geometria chama-se tronco a uma "fatia" cortada de um sólido geométrico (prisma, pirâmide, cilindro ou cone) por um plano que não intersecta as bases (ou a única base, no caso da pirâmide e do cone).

O significado do termo “Tronco da Beneficência” tem origem na construção do primeiro templo de Jerusalém. Reza a lenda que durante o período em que se construía o templo de Salomão, o sábio Rei reuniu obreiros em todo Israel e, como forma de organizar o trabalho dos operários, os classificou, segundo suas aptidões, como Aprendizes e Companheiros. 

Salomão mandou erguer duas colunas forjadas em bronze com 35 covados de altura (~18,30 m), acrescidas, ambas, com um capitel de 5 côvados (~2,60 m), artisticamente representadas na Figura 2. A coluna da esquerda foi designada pela letra B e a da direita pela letra J. Como essas colunas eram ocas, os operários resolveram quardar no interior delas todos os documentos da obra bem como os seus salários. Os Aprendizes usavam a Coluna B e os Companheiros a Coluna J. Com o andamento da obra, persistiu a tradição de abastecer as colunas com os recursos necessários à obra e manter parte desses para premiar o trabalho dos Aprendizes e Companheiros. 

Como se tornava difícil usar as colunas como cofre ou como depósito da documentação da obra, os operários resolveram criar uma réplica em miniatura das colunas em um tronco de cone (Figura 1). Essa pequena coluna era usada para receber as contribuições, sendo levada de mão em mão por todas bancadas dos operários. O operário introduzia sua mão, que ficava oculta pelo capitel da coluna, e depositava sua oferta por uma fenda feita no cimo da peça. Por tratar-se de um tronco de um cone, os arquitetos passaram a chamar essa coluna simplesmente de Tronco.

Embora a história do Tronco tenha surgido na construção do templo de Salomão, é provável que a idéia de um fundo de beneficência tenha surgido, de fato, na Idade Média, com a prática da cobrança do dízimo pela Igreja Católica. Essa prática foi iniciada com a queda do Império Romano, no século IV. A igreja ocupou o vazio do poder, e para evitar o caos financeiro, começou a cobrar o dízimo sob pena de excomunhão. No século VI, os concílios e sínodos da Igreja da França relembravam essa obrigação. O Bispo Graciano inseriu no decreto aos fiéis uma lista de bens sujeitos ao dízimo, redigida por Cesário de Arles e atribuída por ele a Santo Agostinho. O dízimo era devido por todos os participantes da igreja, até mesmo pelo rei e pela aristocracia. No Pontifício do Papa Inocêncio III (Figura 3), 1198 a 1216, surge o “tronco dos pobres”, que era a utilização de parte dos dízimos destinado à dádiva. O nome “Tronco” empregado pela Igreja Católica tem origem na palavra francesa “tronc”, que tanto significa tronco de árvore como caixa de esmolas. Até hoje, as igrejas francesas têm logo à entrada uma caixa de coleta onde se lê a palavra “Tronc”.

A antiga coleta que se fazia entre os sacerdotes foi adotada pelas antigas guildas de profissionais surgidas durante a baixa Idade Média (séculos XIII ao XV). Nessas associações de classe, os trabalhadores eram obrigados a pagar um determinado valor com a finalidade de mutualidade entre seus membros. Era costume recolher parte desses valores para socorrer os associados e estender essa proteção às viúvas, órfãos, inválidos e servia até para defesa judicial dos membros. Essa tradição passou à Maçonaria.

A Maçonaria Operativa da Idade Média desenvolveu-se em grande parte devido a associação de pedreiros livres envolvidos na construção de catedrais. Esses grupos de homens formados por profissionais da construção em pedra, escultores, cinzeladores, mestres projetistas, entre outros, eram livres de amarras feudais, com autorização para trabalharem em qualquer país da Europa, passaram a destinar parte de seus salários à caridade e às obras piedosas da corporação ou da Loja. Nessa mesma época, a Maçonaria passa a ser identificada filantrópica, usando o Tronco como a principal maneira de exercer a beneficência. 

O procedimento de coleta feito pelos maçons operativos na maçonaria medieval era feito com muita discrição. Colocava-se em uma caixa, em um saco ou em outro recipiente, a dádiva. O valor era dado de acordo com a condição e a vontade de cada irmão sem prejuízo econômico e sem revelar a quantia dada por cada um. O valor espiritual era aceito na mesma proporção daquele que não contribuía. Parte desse fundo era destinado às viúvas e aos orfãos. Por isso o termo “Tronco” passou a ser chamado de “Tronco da Beneficência” ou ainda de “Tronco da Solidariedade” e em alguns Ritos de “Tronco da Viúva”, exprimindo assim a ajuda a todos os desvalidos da sorte.

A palavra Tronco expressa também um significado simbólico. Toda arvore é sustentada pela robustez de seu tronco, em cujo interior sobe a seiva que alimenta todos seus galhos, ramos e folhas. O tronco é mais forte a medida em que, pelo passar dos anos, são acrescidos os anéis ou camadas, isto faz com que seja aumentado seu volume e tamanho, garantindo a segurança e a distribuição da seiva em toda árvore. A função do Tronco de Beneficência é crescer sempre que exista necessidade de atender aqueles Irmãos mais necessitados ou seus familiares. O Tronco somente se fortalece a medida em que aqueles que contribuem o fizerem com o intuito de ajudar. 

Atualmente, a condução do Tronco da Beneficência em Loja segue, praticamente, a mesma ritualística dos maçons operativos. As dádivas são sigilosas, feitas com discrição e forte espiritualidade. Cada irmão contribui com o que pode e, se desprovido de recursos, não dará nada, mas como todos, deve introduzir a mão direita fechada no recipiente e retirá-la aberta, pois ninguém pode servir-se das importâncias ali depositadas. Em geral recomenda-se que o irmão retire sua dádiva do bolso esquerdo do paletó, em cima do coração. Esse ato tem um forte significado simbólico, mostrando que mesmo estando o irmão desprovido de qualquer valor material ou pecuniário, ele está colocando como dádiva o seu coração.

A benevolência do Tronco é assegurada, em princípio, para os Irmãos do quadro de uma Loja, com uma única finalidade: socorro e assistência a Irmãos necessitados, suas viúvas e filhos menores de maçons já falecidos. Porque cada maçom, auxiliando a família daqueles que já partiram, sabe que, quando chegar a sua vez de partir, deixará uma rede de solidariedade em favor dos seus que dela necessitem verdadeiramente.
É importante destacar que os recursos do Tronco não fazem parte do patrimônio da Loja. Mas, a beneficência do maçom não se restringe ao nível da sua Loja. Para o maçon, a beneficência é o simples cumprimento de um dever. As ações de solidariedade ou beneficência são direcionadas em relação ao profano ou e em auxílio das organizações ou associações de ajuda humanitária ou assistencial. Nesses casos a Loja deve decidir o destino de uma parcela do Tronco.

 No Brasil, a maioria dos ritos aqui praticados, só se considera válida a sessão que o Tronco tenha circulado (exceção feita somente as sessões onde estão presentes profanos, como no caso de datas festivas, cívicas, brancas, fúnebres, entre outras). No Rito de York, o responsável por circular o tronco é o Esmoler . Esse oficial deve percorrer a Loja levando a sacola da beneficência para que cada irmão deposite ali a sua dádiva. Resultado do Tronco é conferido pelo Tesoureiro e anunciado em voz alta pelo Venerável. No REAA, a tarefa de circular o tronco cabe ao hospitaleiro.

Ao Esmoler não cabe somente circular o Tronco. Esse oficial tem uma função importantíssima na Loja. A ele cabe a tarefa de detectar as situações de necessidade e de prover o alívio à essas situações, quer agindo pessoalmente, quer convocando o auxílio de outros maçons ou, mesmo, de toda a Loja, se a situação assim justificar ou impuser. Assim, sempre que surgir ou for detectada uma situação de necessidade de auxílio, de conforto moral ou de simples presença amiga, os maçons acorrem e unem-se em torno do Esmoler. Ao Esmoler é a quem é cometida a função de organizar, dirigir, tornar eficientes, úteis, os esforços de todos os maçons em prol daquele que necessita. É um ofício muito importante em qualquer Loja maçônica, devendo, por isso, ser desempenhado por um maçom experiente, se possível um Past Master.

O Esmoler deve estar atento ao surgimento de situações de necessidade, graves ou ligeiras, prolongadas ou passageiras, e atuar em conformidade. Mas, deve contar com o apoio de todos membros da Loja para que possa atuar efetivamente. Qualquer maçom que detecte ou conheça uma situações de necessidade de outro irmão deve comunicar ao Esmoler da sua Loja, depois deixá-lo avaliar, analisar, atuar, coordenar,e colaborar para a concretização da Beneficência.

A Jóia do Esmoler é uma bolsa ou um saco (Figura 4). Essa Jóia designa o Esmoler como o oficial que deve guardar os meios de auxílio da Loja. O Esmoler deve, figurativamente, sempre carregar a Bolsa consigo, pois ele nunca sabe quando necessitará de prestar auxílio, material ou moral. A bolsa também pode ser vista como Saco no qual, em cada sessão, se recolhe os donativos que cada maçom dá para o Tronco da Beneficência.

Uma das características fundamentais da Maçonaria é a existência, o culto e a prática de uma profunda e sentida beneficência entre os seus membros. A beneficência entre maçons existe, pratica-se e sente-se em relação às situações de necessidade, aos infortúnios que a qualquer um podem acometer, às doenças que, tarde ou cedo a todos afetam, às perdas de entes queridos que inevitavelmente a todos sucedem. A prática da beneficência maçônica traduz-se por meio de visitas aos doentes e desafortunados, auxílio, busca, localização e obtenção de meios adequados para socorrer à necessidade existente seja por meio de palavras de conforto, conselho ou incentivo, através do uso da palavra amiga no momento certo, iluminando o que parece escuro, na orientação ao que está perdido, no reestabelecimento da confiança no inseguro, no simples ato de estar presente ou disponível para o que for necessário ou na obtenção e disponibilização de fundos ou meios materiais do nosso Tronco.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Morganti, Julio Cesar. Tronco da Beneficência.

da Silva, Carlos Gomes. Tronco dos Pobres, de Solidariedade ou Beneficência, 

Dias, Osvaldo Genereso. Tronco de Beneficência.